T2 feito de um cartão resistente e que se encontra estrategicamente colocado junto a um parquímetro e a um restaurante de luxo.
E eis que perante tal sofrimento, reuniu o seu grupo de amigos, vizinhos e companheiros à volta do seu T2 reciclável à beira Almirante Reis plantado. Uma reunião necessária pois, este nosso pequeno chefe está prestes a largar a sua tribo toxicodependente e tem que fazer a partilha dos bens e continuar o legado do chefe cumprindo assim a tradição.
É então que o seu espectacular discurso começa, um brilhante som de consoantes saídos da boca de alguém com 45 anos de experiência de vida, tendo passado cerca de 27 desses mesmos anos agarrado à veia, um feito histórico para aquele grupo (o anterior chefe só tinha conseguido 10).
A ti, José Sniffa Tudo Quanto Puder, deixo-te as cinzas do meu falecido cão, aquele que usámos para fazer uma fogueira para nos aquecermos no inverno passado. Foi bom enquanto cão, ainda melhor enquanto lareira. Penso que lhes vais dar bom uso.
Yuri Rebenta Parquímetros, és bom com a cabeça, mas isso qualquer dia ainda te faz mal, como tal, deixo-te a minha grande moca. Lembra-te, parte qualquer parquímetro que se oponha a ti será destruído. Tu és mais merecedor de moeda do que uma mera máquina da EMEL. Recorda-te destas minhas palavras, bem como todos vós. A César o que é de César, a vós o que é de vós.
Meu grande amigo Afonso Arruma Qualquer Um, reservo-te imaculadamente o meu jornal de quando o Benfica foi campeão. Com ele arrumei milhares de carros e sobrevivi a incontáveis invernos. Agora poderás fornecer excelentes indicações ao teu cliente.
Joãozinho Inexperiente Da Veia, parabéns! O teu currículo para este emprego, enquanto arrumador, estava incompleto pelo facto de não possuíres a doença, por isso mesmo empresto-te a minha seringa. Atenção! Empresto-te porque o Felipe 1001 Buracos será o oficial detentor dessa honrada agulha.
À minha querida Francisca Pseudo-Ex-Desintoxicada, deixo o meu cobiçado T2. Ele que é feito de um cartão resistente e se encontra estrategicamente colocado junto a um parquímetro e a um restaurante de luxo.
Meu filho, António Era Para Um Café, espero que te sintas honrado, serás o próximo a chefiar este grupo de gente repleta de força de vontade e possuirás a grande bolsa da chefia. Serás tu, que ainda ontem eras criança, que controlarás os trocos que entrem nas remunerações deste grupo, e lembra-te, para a Santa Casa, nós nunca recebemos dinheiro nenhum dos nossos clientes.
Agora, pretendo deixar umas últimas palavras para o grupo, em particular para o Pedro Nariz Vermelho…
E foi assim, que num último fôlego, Alfredo Veia Grossa dirigiu as suas últimas palavras e pedidos. Existe o mito urbano, de que o seu último desejo terá sido dito aos seus seguidores para o deixarem ir, pelo menos com os ténis e meias calçadas.